Dando uma chance aos serviços de streaming

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Que alguém me corrija se eu estiver errado, mas há tempos eu venho notando que os serviços de streaming de áudio ou vídeo vêm sendo apontados como os grandes vilões para a queda de venda de certos produtos nas respectivas áreas.

E é possível ou talvez bastante provável que assim o seja, mas eu creio que é preciso analisar por que. Uma das principais características dos serviços de streaming é o relativo baixo custo financeiro dos serviços oferecidos, sem qualquer obrigação contratual, como a famigerada fidelização, e com possibilidade de alterar o plano de assinatura a qualquer tempo.

Os dois principais serviços de streaming disponíveis para o Brasil, a saber, Netflix e Amazon Prime Video, consistem basicamente da transmissão de conteúdo em vídeo. O da Amazon oferece muito mais do que isso lá fora, mas pelo jeito eles encolheram a oferta por razões de mercado, o que, aliás, fizeram muito bem.

Eu estou no grupo que não vai abrir mão de adquirir mídia ótica para as minhas coleções de filmes e música. Mas, de tempos para cá passei a assinar o Netflix e bem recentemente o serviço da Amazon. O que vem a seguir são observações e anotações sobre ambos.

Prós e contras de Netflix e Amazon Prime Video

Serviços de streaming: Netflix e Amazon Prime VideoEu começaria pelo Netflix, até hoje o mais popular e que leva a vantagem de estar mais tempo disponível para o público brasileiro.

Os planos de assinatura dependem de que tipo de qualidade o usuário quer, mas isso não depende só do interesse, depende também do equipamento que será utilizado. O serviço começa na assinatura básica, que não permite a transmissão de conteúdo de alta resolução. Para tablets ou celulares funciona, mas para aparelhos de TV a conversa é outra, até porque a maioria das chamadas Smart TVs tem tela com resolução muito superior, o que compele o usuário a se afastar da assinatura mais básica.

Resumidamente, as opções são para imagem convencional e uso de apenas uma tela, duas telas em alta definição, e aí o serviço pula direto para quatro telas com 4K e todos os outros benefícios de formatos mais recentes, como HDR e Dolby Atmos. Mas, para chegar ao melhor serviço a tarifa é significativamente mais onerosa, e com aumentos impostos pelo serviço a qualquer momento e sem qualquer explicação ao usuário. Atualmente, para um serviço de quatro telas o preço gira em torno de 37,90.

Se o número de telas for ultrapassado o serviço é automaticamente bloqueado e o acesso informado ao dono da conta, que ficará responsável em desativar quem está vendo e/ou pedir a quem pede carona que evite abrir mais de uma tela ao mesmo tempo. É fácil saber quem é o transgressor, porque o acesso fora do limite é informado a quem paga a conta.

Mesmo com o plano mais caro, é preciso que o usuário final tenha um aplicativo instalado no dispositivo com os recursos técnicos necessários. O aplicativo de streaming não só reconhece o dispositivo, mas o flexibiliza automaticamente para a programação que ele é capaz de reproduzir em um determinado momento. Além disso, via Internet, algumas das configurações de acesso estão disponíveis para compatibilizar os equipamentos conectados.

No mesmo dispositivo o acesso muda de configuração sem a intervenção do usuário. Recentemente eu instalei uma barra de som na TV via HDMI-ARC. Até então, o aplicativo só me oferecia som com 2 canais (estéreo convencional), e neste caso a limitação de áudio era da TV. Mas, com o uso da barra o aplicativo passou a me oferecer o mesmo programa em formato 5.1 (Dolby Digital Plus), que a barra é capaz de reproduzir. Se o dispositivo em uso estiver ligado direto ao A/V receiver, por exemplo, ele será de captar o que estiver disponível, geralmente PCM ou Dolby Digital Plus.

Trocando a TV por outra com capacidade estendida de HDR e áudio multicanal, o aplicativo nela instalado passou a transmitir Dolby Vision, no que tange à imagem, e áudio desde 2 até 5.1 (PCM ou Dolby), com a introdução da extensão para Dolby Atmos, dependendo da TV ou do dispositivo. O Dolby Digital Plus permite a reprodução da extensão para o Atmos em dispositivos compatíveis. Ligando a TV com esta capacidade se obtém Dolby Atmos sem problema, mas através da conexão HDMI-ARC a opção de Dolby Atmos desaparece, ficando somente Dolby 5.1, reproduzido pelo A/V receiver.

O playback de Dolby Atmos pela barra da TV é interessante, mas não se compara ao que é conseguido com o uso de um sistema multicanal discreto. O fabricante da TV admite o uso de outros modelos externos de barra, capazes de reproduzir Dolby Atmos, provavelmente com resultados bastante diferentes.

Olhando e vendo tudo isso de forma pragmática, o resultado de emulação de Dolby Atmos não tem tanto peso assim, talvez porque o formato, quando usado em seriados, me parece um tanto ou quanto limitado em termos de mixagem, e não aparenta ter o peso do codec no espalhamento do conteúdo da trilha sonora, como acontece frequentemente com discos Blu-Ray com este tipo de trilha.

Prós e contras do Amazon Prime Video

Indo agora para o Amazon Prime Video, é possível afirmar que o serviço de streaming é bastante recente no país. A partir de 2015 foi possível encontrar o aplicativo em TVs com sistema operacional Android. O aplicativo está também disponível para TVs LG com sistema WebOS. As mais recentes tem o botão de acesso direto no remoto.

A assinatura pode ser feita com o uso da conta de compras no site da Amazon dos Estados Unidos, que é aplicável no Brasil, ou através de uma conta especificamente usada para este fim, no site do serviço do Amazon Prime.

Neste mesmo site o assinante poderá depois ter acesso ao conteúdo. A maioria dos navegadores tem incluído os códigos do HTML 5.0. Mas, se for necessário, pode-se usar outro navegador e lançar mão do Silverlight da Microsoft, da versão 5.1 para frente.

Tal como o Netflix, a Amazon tem seu próprio sistema de produção independente, e talvez esteja aí o seu maior benefício. A empresa faz parcerias com os estúdios de cinema e apresenta um acabamento técnico de bom nível, em cima de roteiros bem elaborados.

A assinatura do streaming brasileiro tem preço único. A oferta da adesão é de um mês gratuito (o Netflix faz o mesmo), e nos seis meses seguintes a mensalidade é de 7,90, ao final passando para 14,90 nos meses seguintes. O serviço é oferecido para 3 telas, desde que o conteúdo não seja o mesmo.

Eu experimentei o seriado “O Último Magnata”, refilmagem do filme do mesmo nome, feito décadas atrás com o ator Robert de Niro no papel de Monroe Stahr. O filme, do que eu me lembro, era fraco, o seriado talvez um pouco mais dinâmico, abordando o mesmo assunto: as mazelas e intrigas corporativas de Hollywood.

No momento eu assisto episódios do interessante “Mozart In The Jungle”, baseado no livro e peça homônimos, e que trata da selvageria da competição de músicos na busca de bons salários e fama no ambiente nova-iorquino.

E comecei também a ver Bosch (nada a ver com a fábrica alemã), uma série que retrata um detetive pouco convencional e capaz de agir dentro das suas intuições, em contradição aos seus pares bitolados.

O tema é recorrente na filmografia americana, e ficou patente no passado, com a produção do chamado “film noir”. Existem na realidade momentos que lembram este estilo de filme, inclusive no tratamento da trilha sonora, mas ironicamente Bosch foi gravado com imagem HDR, com cenas absurdamente iluminadas.

Todos os seriados acima mencionados foram tratados e apresentados em HDR 10, som 5.1 canais, embora Bosch seja originariamente feito em Dolby Surround. Não vi, até agora, nada codificado em Dolby Atmos nem Dolby Vision, embora eu tenha sido informado que o sinal distribuído ao Brasil é o mesmo.

Cuidados na conexão

Em se tratando de um serviço de streaming, é importante ter uma conexão adequada para a Internet, por causa do bitrate (taxa de transmissão de bits pela rede), medida em bits/seg (bps).

Segundo as especificações publicadas, o streaming do Netflix seria de pelo menos 1.5 Mbps para vídeo standard e de 5 Mbps para conteúdo de alta definição. Na assinatura de 4 telas, exigida para imagens UHD (4K), o recomendado é um apoio de 25 Mbps.

Da mesma forma, para o Amazon Prime, vídeos SD precisariam uma velocidade de 900 Kbps e HD por volta de 3.5 Mbps.

Tudo isso é teórico. Eu tenho 52 Mbps na minha rede wi-fi, e mesmo assim bloqueios e artefatos de reprodução acontecem. É preciso entender que o sinal recebido tem que passar obrigatoriamente por um “buffer”, que é o processo de acúmulo de bits em uma dada linha de transmissão.

O objetivo do buffer é evitar a perda do processamento do sinal. O sinal acumulado é usado na medida em que o sinal principal acabe de ser processado. Tecnicamente, se o buffer for de bom tamanho (em bits) o sinal que está sendo reproduzido não será perdido. Se o buffer esvaziar, a reprodução do vídeo é interrompida e novo buffer terá que ser formado para que a reprodução continue.

O usuário é sempre informado quando da formação do buffer inicial, na imagem de uma seta em formato de roda, girando em torno de si própria. No Netflix há indicação do nível do buffer em valores percentuais, no da Amazon não.

Percebe-se que o buffer de sinal depende da velocidade da rede local usada, mas se o sinal que vem do serviço de streaming for momentaneamente interrompido, não haverá rede local que dê jeito. A prova disso foi vista durante o streaming de um dos episódios da Amazon que eu assisti. Uma vez interrompido o sinal, o aplicativo colocou uma informação na tela dizendo tratar-se de “falta de bits na largura da banda passante”, e dando a opção de reiniciar a reprodução ou sair dela. Todas as vezes que isso aconteceu, reiniciar a reprodução acabou no mesmo erro, mas saindo e começando onde parou resolveu tudo. Se fosse “falta de largura de banda”, como sugerido, não seria possível voltar ao programa. O erro é mais provável ser um bug no aplicativo.

Comparativo

Na minha opinião, ambos Netflix e Amazon Prime Video fornecem um bom serviço, com os seus respectivos altos e baixos, como por exemplo, fazer uso de filmes antigos de qualidade duvidosa.

Mas, aí depende de cada um aceitar ou não o que é oferecido, e em casos extremos, sair fora se for necessário. Nos dois casos o conteúdo para o Brasil é diferenciado, mas todos os programas tem opção de legenda em português.

O Amazon Prime Video neste momento tem a desvantagem de não estar disponível em televisores mais antigos, mas é possível lançar mão de dispositivos que podem ser conectados por HDMI ao televisor, como, por exemplo, o Fire TV Stick, e produtos semelhantes. Os adaptadores deste tipo apropriados para sinal 4K são bem mais caros.

Existem outros meios de completar a instalação dos aplicativos, mas o assunto foge ao escopo deste texto. O leitor interessado poderá encontra-los em sites especializados.

Em termos de custo, o da Amazon ganha fácil. Resta saber se continuará assim a longo prazo. O Netflix começou o serviço de 4 telas por cerca de 24 reais e foi subindo sem maiores explicações.

Existem limitações técnicas ao nível da compressão de sinal, que não é compatível com o high end oferecido. O problema é muito menos drástico no serviço da Amazon, cuja imagem HDR está próxima da perfeição. Até agora eu não vi Dolby Vision por lá, mas sim HDR 10 e, no entanto, a imagem é superior ao Dolby Vision do Netflix. Neste último, a oferta padrão é HDR 10, mas os mesmos seriados podem ser assistidos por Dolby Vision, dependendo do dispositivo.

O motivo provável da falência do broadcasting tradicional

A programação rotineira da TV aberta e mesmo das operadoras de TV por assinatura esbarram em uma série histórica de limitações. O lado mais drástico desta penúria está na programação da TV aberta, que insiste em oferecer material anacrônico, e está cheia de conteúdo religioso ou canibalismo jornalístico, além de massificar uma grade dirigida aos centros onde a audiência deste tipo de conteúdo é maior. Assim, não há quem aguente. Lembrando que as assinaturas de streaming ainda não atingiram preços exorbitantes, o único empecilho seria o acesso à Internet.

Culpa-se o streaming pela diminuição de acesso à TV aberta, mas se esquece que ela carece do espalhamento do sinal, que ainda é muito limitado. Na TV por assinatura existe a chance de passar sinal por satélite, mas a programação é estática, o espectador não tem chance de parar de assistir e continuar depois de onde parou a não ser que ele ou ela assinem um serviço de gravação por fora.

Pode ser que eu me engane, mas a tendência dos serviços de streaming é aumentar cada vez o público assinante, desde que a relação custo/benefício compense. [Webinsider]

. . .

Leia também:

http://br74.teste.website/~webins22/2017/10/02/o-mundo-alternativo-de-george-harrison-segundo-scorsese/

http://br74.teste.website/~webins22/2017/09/06/oled-ou-qled-a-suposta-guerra-entre-as-tvs-coreanas/

http://br74.teste.website/~webins22/2017/08/29/resolucao-8k-na-tv/

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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2 respostas

  1. Apesar de ser colecionador de filmes em VHS, DVD e Blu-ray eu utilizo serviço de streaming (Netflix), cujo custo benefício acho excelente. Existe também um serviço interessante chamado Oldflix, mais barato e que oferece somente filmes (em tese) clássicos, leia-se antigos. Mas pra quem gosta de antigões, vale. O problema é que esses serviços podem estar com os dias contados. Eu li esta semana que nos EUA, liderados por um dos asseclas de Trump, as autoridades que regulam a internet autorizaram que as empresas operadoras possam fazer distinção de conteúdo. Na prática isso autoriza que a operadora te cobre valor diferenciado para acesso a streaming de vídeo por exemplo. Estando autorizado nos EUA não tardará à que o lobby das operadoras daqui comece e sem querer puxar o debate pra política, o atual governo já deu mostras do seu desprezo pelo povo e apreço aos grandes empresários; questão de tempo pras operadoras daqui que além de gananciosas, (com o perdão da expressão chula) se borram de medo do Netflix (pois em geral estão ligadas à serviços de TV a cabo que vêm perdendo terreno com a expansão dos serviços de streaming). Quem viver, infelizmente verá.

    1. Oi, Fabio, soube também desta trapaça do Trump, mas acho que ele e as pessoas que defendem este tipo de mentalidade vão encontrar oposição por parte dos usuários, caso contrário as repercussões serão, como você diz, bastante negativas.

      As operadoras infelizmente também não são santas, por esses dias eu troquei de operadora de banda larga e ouvi depois da representante daquela que eu larguei uma intimidação inacreditável, com o objetivo de fazer com que eu voltasse atrás. Brechas na lei são usadas para intimidar o usuário, e é preciso ter clareza no trato com quem te fala coisas que se sabe serem proibidas para qualquer um, no meu caso que a nova operadora estava impondo franquia de dados, coisa que só existe na telefonia móvel.

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