A fase britânica do cineasta Roman Polanski

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A fase britânica de Roman Polanski

A fase britânica de Roman PolanskiApesar de nascido em Paris, França, Roman Polanski era filho de judeus poloneses, que decidiram voltar para a sua cidade de origem, Cracóvia, sofrendo logo depois as atrocidades nazistas impostas àquele país durante a segunda guerra mundial.

Anos mais tarde, tendo sobrevivido aos horrores da guerra, e depois de ter se iniciado em uma escola de cinema, Polanski voltou a Paris, onde conheceu o cineasta Gérard Brach, com quem depois escreveu alguns roteiros.

Foi essa associação que permitiu que Polanski estabelecesse a sua reputação como cineasta de vanguarda, e de interesse perante os produtores americanos, que a seguir o levaram para Hollywood, onde ele fez os primeiros filmes estabelecidos “em estúdio”.

A fase britânica, entretanto, além de formadora, deu a ele a oportunidade de fazer cinema com liberdade, porque os estúdios na Grã-Bretanha já haviam se livrado dos grilhões impostos pelos esquemas de produção, e em particular na década de 1960, quando o cinema inglês foi dominado por realizadores avant-guarde, como Lindsay Anderson, John Schlesinger, Tony Richardson, e muitos outros.

Nesta fase, foram três filmes realizados, a saber e pela ordem:

Em entrevista bem recente, Polanski declara que achou Repulsa Ao Sexo uma obra menor. Ele alega não ter ainda a experiência necessária para ter feito um filme de melhor qualidade. Na verdade, o filme se propõe a ser um thriller de terror psicológico, mas a atriz francesa Catherine Deneuve interpreta a personagem como uma esquizofrênica experimentando diversos tipos de alucinação, além da rejeição aos homens. Apesar disso, o filme tem até hoje o seu culto de seguidores.

Cul-de-Sac (literalmente “beco sem saída”) é um filme especial. Escrito para ser um thriller psicológico ele é, antes de tudo, um filme com toques de humor negro. Ganhou a Urso de Ouro no Festival Internacional do Cinema de Berlim, em 1966.

Eu o assisti em uma daquelas raras visitas a São Paulo, capital, onde na época o meu irmão e sua mulher moravam. O cinema de arte começou cedo no Rio de Janeiro, mas acabou se tornando presente na capital paulista. Coincidiu de eu chegar lá quando o filme foi lançado.

Polanski iria levar para o seu filme seguinte “A Dança dos Vampiros” os atores Jack MacGowran (no papel principal do Professor Abronsius) e Iain Quarrier (no papel do filho homossexual do Conde Von Krolock).

A Dança Dos Vampiros é uma produção americana, e que encheu o cinema Metro-Tijuca, onde eu o assisti. Em alguns momentos, a comédia levou a plateia ao histerismo compulsivo, evidência do impacto visual do filme.

O produtor americano Martin Ransohoff fez das suas: primeiro “empurrou” a sua protegida Sharon Tate, com quem depois Polanski viria a se casar, e que posteriormente foi vítima de uma barbárie em Los Angeles, assassinada grávida por um líder de um culto. Depois, Ransohoff, sem o consentimento do diretor, levou o filme para a M-G-M, onde mandou Margareth Booth, editora chefe do estúdio, remontar tudo, trocar o título e transformar o resultado em uma comédia pastelão.

Polanski ficou uma fera, porque foram cerca de 20 minutos de filme omitidos. Até recentemente, julgava-se que as cenas cortadas estavam perdidas, mas depois elas foram recompostas ao original, com a supervisão do diretor.

A fase britânica de Roman Polanski

Dança dos Vampiros segue o mesmo espírito de humor negro que pontuou o filme anterior, mas com toques óbvios de crítica à realeza europeia. O roteiro também aproveita para parodiar um estalajadeiro judeu, fazendo queixas o tempo todo em sua direção. De tabela, os roteiristas não poupam a comunidade acadêmica, na pele do excêntrico e expurgado Professor Abronsius.

A forma com a qual Polanski desenvolve o roteiro nas filmagens mostra resquícios de uma forma de fazer cinema que remonta ao filme mudo. O trabalho de câmera é excepcional neste sentido. Ao contrário dos filmes anteriores, a produção lhe permite rodar em Panavision colorido, fazendo tomadas em locação fora da Grã-Bretanha.

O filme não funciona só como comédia, ele mostra o ambiente opressivo de uma comunidade do interior da “Transilvânia”, vítima de preconceitos diversos. E a cena mais divertida ocorre quando Abronsius e seu discípulo Alfred invadem sem convite o castelo do Conde Von Krolock, que só aceita a presença dos dois ali dentro por ele Abronsius ser um professor da universidade dedicado ao estudo de morcegos.

Jack MacGowran e Ferdy Maine valorizam muito esta disputa de egos nas sequências no castelo. Ambos os atores têm formação clássica e a presença deles no filme é sóbria, a despeito do clima de paródia com requintes de estereótipo dos seus personagens.

Apreciação

O primeiro filme que eu assisti do cineasta Roman Polanski foi A Faca Na Água, rodado em 1962 na Polônia, mas exibido mais tarde quando eu já era adolescente, não me lembro em que ano exatamente. O filme foi exibido no Tijuca-Palace, espécie de filial Tijucana do Cine Paissandu, Meca da geração do mesmo nome nesta época.

Polanski se envolveu direta e indiretamente em um monte de confusões. Os americanos mais radicais aparentemente nunca o perdoaram por um alegado abuso sexual de uma modelo feminino de apenas 13 anos. Em 2009, o diretor chegou a ser preso na Suíça, quando desembargava para receber um prêmio no Festival de Cinema de Zurique, mas no final escapou da extradição para solo americano, por conta da justiça local, e liberado a seguir.

Na sua trajetória em Hollywood o seu melhor filme foi Chinatown, que contou inclusive com a presença do renomado cineasta John Huston. Na minha visão pessoal, “O Bebê de Rosemary”, que ficou mais famoso, não passa nem perto dos filmes da sua fase inglesa. O resto teve altos e baixos, mas a produção recente do cineasta mostra a obra de um homem que amadureceu e mudou a sua ótica sobre o mundo.

Polanski disse em entrevista que o cinema foi para ele um “brinquedo da infância” do qual ele nunca quis se livrar. Ou seja, um formato escapista que serviu de escapismo ao seu criador. E a gente entende que a alma sofredora é aquela que, quando provocada, recorre ao mais belo dos atos criadores. Escrever, fazer cinema, pintar, tudo isso tem sempre o objetivo de deixar vazar a alma livremente, sem precisar de qualquer outro tipo de forma de comunicação! [Webinsider]

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Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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