Identidade e esquisitices no SXSW

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gluz_sxsw-2016-weirdAustin é uma cidade reconhecida por sua doce esquisitice. Quem mora aqui não se cansa de repetir: “Keep Austin Weird”, e certamente a conotação do termo é positiva.

No meu primeiro South by Southwest não demorou muito para perceber que o evento faz jus à cidade. O SXSW é esquisito, com conotação igualmente positiva.

Já frequento eventos de mídia e tecnologia há 15 anos e tenho certeza que nunca vi nenhum parecido com esse.

Pra falar a verdade, nada foi tão bombástico. Grandes inovações não eram notadas. Ninguém revelou a fórmula secreta da Coca-Cola nem me impressionou com algo nunca visto antes.

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Nem a aparição luxuosa de Barack Obama – a primeira de um presidente dos Estados Unidos em um evento desse tipo – pode ser considerada o grande destaque. O que faz desse evento algo único e sensacional é a dose cavalar de diversidade. No conteúdo, nos formatos e no público.

Em cada janela de horário são oferecidas várias dezenas (eu disse dezenas) de palestras, painéis e pitches ao mesmo tempo. Isso significa que cada participante efetivamente constrói sua própria experiência, o que torna impossível fazer uma afirmação de qualidade (ou falta de) nas sessões. Tem pra todos os gostos.


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Combinação perfeita entre conferência e festival, o evento também surpreende pelos formatos das sessões. Além dos painéis e das palestras, temos também as sessões de pitches de ideias ou startups, os workshops, as degustações, os shows, as exibições de filmes e os espetáculos de humor. As salas variam de tamanho entre o aconchegante e o gigantesco e o evento se espalha por toda a cidade. Andar com a credencial do evento no pescoço é um hábito que permite passe livre em vários lugares.

Um dos maiores prazeres do South by Southwest é encontrar os amigos no fim do dia e aproveitar a abundância de drinks de graça para fazer a resenha do dia. Cada um conta sobre sua experiência no evento e é aí que você tem certeza que não existe um SXSW, mas vários.

Eu tenho frequentado sessões de user experience, aplicativos e cultura digital. Meu sócio, Fernando, tem se interessado por painéis sobre negócios que envolvem mobile, mas gosta de planar por diferentes cenários.

O publicitário Flavio não se impressionou tanto com as palestras sobre branding e direcionou a agenda para pitches de startups. O produtor de eventos Junior assiste sessões sobre o futuro do entretenimento e do esporte enquanto espetáculo. O executivo de mídia Antônio se concentrou tanto em novidades de empresas de mídia, que se entediou e sentiu a necessidade de passear por outras áreas.

E é exatamente quando buscamos novos ares em sessões que tratam de assuntos completamente inusitados que o evento mostra sua face mais interessante.

Nossa identidade é uma essência que mistura ingredientes como bagagem cultural, crenças, estilo de vida, formação profissional, traços de personalidade e pitadas de outras coisas. Nós carregamos essa identidade na mochila enquanto andamos pelas ruas de Austin decidindo qual será o próximo mergulho. O segredo é deixar espaço na mochila para que novas essências entrem, se fundindo em algo novo. A química que ocorre quando nossa identidade se abre para novas influências é o que leva a experiência do evento para um outro patamar.



Consigo assistir entre quatro e cinco sessões por dia. Se almoçar rápido e acordar cedo dá pra chegar a seis, mas nesse caso abro mão dos churrascos texanos e festas na cidade toda, que são uma parte importante da experiência no evento. A tática é reservar pelo menos uma sessão para algo inusitado, diferente do que seria natural ou esperado.

Minha agenda, antes repleta de palestras de design e startups ganhou temas variados como cases de crowdfunding no Quênia, o futuro dos carros autônomos, um papo com o Chef Anthony Bourdin, uma explanação da cannabis como negócio, histórias sobre a criação do festival Burning Man, ações de ativismo feminino e o storytelling por trás dos parques temáticos da Disney.

Assim como o SXSW, os produtos digitais de sucesso representam nossa identidade, como se as telas fossem espelhos. Uma das previsões mais repetidas no evento é que, em cinco anos, o aprendizado das máquinas permitirá experiências massivamente personalizadas. Significa que os produtos digitais se adaptarão cada vez mais à identidade de seus usuários, sem que eles tenham que tomar decisões.

O design antecipativo procura antever necessidades individuais, poupando os usuários do esforço da escolha (ver The Paradox of Choice, livro de Barry Schwartzman). As interfaces ‘conversacionais’ (já escrevi sobre isso, neste artigo) buscam deixar a experiência de uso de um produto mais parecida com uma conversa pessoal, onde a máquina tem consciência da identidade do interlocutor.

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Todos os caminhos apontam para um mundo complexo, com mais opções do que queremos e podemos escolher. É justamente por isso que os produtos digitais precisam ser cada vez mais simples, diretos e inteligentes.

Voltando ao SXSW, logo no primeiro dia ganhei um livro pesado que continha a programação do evento. Uma gota de suor deslizou pelas têmporas quando passei os olhos pelas 62 sessões que ocorreriam dali a quinze minutos, das 9:30 às 10:30 do dia 12 de março. A tensão se ampliou, pois logo depois, às 11 amanhã seriam mais 86.

Os produtos do futuro conhecerão tão bem minha identidade, que meu trabalho será somente o de expandi-la para terrenos desconhecidos. Em um mundo em que as telas espelham o que somos, esse não será um trabalho pouco importante. [Webinsider]

Marcelo Gluz é co-fundador e diretor-executivo da Outra Coisa.

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