Melhores práticas em blogs corporativos? Ainda não

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Em 2007 aconteceu o primeiro BlogCamp e um dos assuntos das conversas de corredor era a febre de interesse sobre como se ganhar dinheiro blogando. Como medir resultados, atrair tráfego, usar o Page Rank, fazer marketing viral – isso monopolizou a atenção da maioria dos participantes.

Na mesma época em que o sentimento de hostilidade e desconfiança entre blogueiros e jornalistas se tornou público, alguns blogueiros contraditoriamente acusavam os jornalistas de serem profissionais vendidos ao mesmo tempo em que se esforçavam para vender seus serviços.

Tive vontade de entrevistar a Thiane Loureiro ao descobrir que compartilhávamos a impressão de que o blog estava sendo promovido a partir de motivações emocionais e eventualmente confusas, mais do que pensando nas vantagens e também nas dificuldades que aparecem pela adoção dessa ferramenta no ambiente corporativo.

Ela, que atualmente trabalha para a Edelman, vive diariamente os dilemas da comunicação corporativa em tempos de internet e teve sua percepção sobre o assunto organizada a partir do estudo e do acompanhamento de experiências – de sucesso e fracasso – no Brasil e no exterior.

Daí vem sua preocupação pela maneira como blogs vêm sendo oferecidos a empresas: para promoções de curto prazo, relativamente baratas e que não deixam claro as vantagens e eventuais riscos que isso pode trazer. Ela sabe que blogar depende menos de orçamento do que de mudança de hábitos.

Mexemos bastante no texto depois de termos chegado ao final da longa troca de e-mails que resultou nesta entrevista. Nosso desafio foi encontrar um tom que mantivesse o espírito de informalidade e troca de impressões da nossa conversa particular, evitando que o resultado parecesse uma promoção velada da empresa que ela representa e também tomando cuidado para que ela, Thiane, não ficasse exposta por revelar informações sigilosas ou expor outros profissionais, clientes ou empresas concorrentes.

Particularmente, acho que ficou muito legal!

O que na sua opinião, está impedindo que empresas e organizações em geral usem mais intensamente a internet?

Vejo a Web como algo que ainda está evoluindo no mundo todo. O Blog Council, criado recentemente por grandes empresas nos EUA para discutir melhores práticas em blogs corporativos, é um exemplo do quanto ainda há dúvidas, questões, dificuldades.

Se estamos o tempo todo batendo na tecla de que as pessoas agora têm poder de influenciar, que elas são o que realmente importa, então do mesmo jeito que tratamos pessoas no mundo offline é como vamos nos relacionar com elas online. Sem imposições, forçações, convencimento. Mas com transparência, respeito e conversação.

Empresas que a vida toda aprenderam a controlar informação agora precisam aprender a ceder. Mas isso leva tempo para acontecer.

Você têm defendido que nem todas as empresas devem ter blogs. Por que?

Há tantas coisas que podemos fazer online que mtas vezes tb acho que ficamos viciados em blogs. E blogs são só uma das coisas que uma empresa pode e deve fazer para estreitar relacionamento com seus públicos via Internet.

A gente aconselha empresas a terem blog quando elas estão preparadas para isso. Quando elas estão prontas pra mudar a mentalidade e criar relacionamentos na Internet. Quando elas entendem que blogs são iniciativas de comunicação horizontal. E não quer dizer que não enfrentemos problemas até chegar nessa conscientização, até encontrar alguém dentro da companhia que compreenda isso e nos ajude a “iluminar” o conceito de blog internamente.

E mesmo assim, entre a concepção e o lançamento existe um processo muito cuidadoso de alinhar as mensagens que o blog deve passar, quem são os porta-vozes para isso, o processo de contratação desses porta-vozes (se eles não forem da companhia), a preparação deles e a integração deles com o universo corporativo que passarão a representar…

Conta um pouco da história da Edelman e como a empresa se envolveu com web.

A Edelman foi fundada nos EUA em 1952 e é a terceira maior agência de comunicação do mundo. No Brasil ela existe há 10 anos. Prestamos serviços de assessoria de imprensa, gerenciamento de crise, organização de eventos, branding, marketing profissional, comunicação interna, publicações customizadas e relações com o governo.

Novas mídias é uma área nova e que recentemente ganhou a alcunha de Edelman Digital. Nos EUA e na Europa são departamentos grandes, com estrutura e recursos para desenvolver qualquer tipo de ação na Web, incluindo mobile. Aqui somos quatro pessoas e fazemos mensuração online, blogger e community relations – RP direcionada para mídia social, blogs corporativos, press release social – envio de release de imprensa em ambientes como sites de relacionamento, podcast e twitter. (Artigos sobre isso aqui e aqui.)

O que a Edelman faz diferente em relação a agências de publicidade?

O approach é mais voltado para gerenciamento de marca, reputação e o estabelecimento de relações de longo prazo. Por exemplo, lá fora a Edelman criou todo o conceito por trás do lançamento do XBox e a Campanha pela Real Beleza, da Dove. Ela é mesmo o guarda-chuva que alinha toda a comunicação de um cliente e cria todo o conceito de marca, gerenciando a reputação dessa marcar online e offline. Nós até podemos, por exemplo, fazer blog pra durar um mês. Mas para fazer o barulho por barulho, podemos nos unir a uma agência de publicidade.

Qual foi o erro na campanha da Edelman para a Walmart usando blogs nos EUA e quais lições a Edelman tirou disso?

Isso foi em 2006. A Edelman não abriu no blog que um os blogueiros eram jornalistas freelancer. Mas o CEO foi a público, houve retratação e nós até hoje somos treinados e temos uma série de compliances que estão de acordo com a WOMMA – associação oficial da indústria de marketing boca-a-boca nos EUA – e que temos que seguir para qualquer coisa que fazemos online.

O que você acha que pesou para a Edelman te escolher?

Acho que foram os empregos anteriores como na agência Reuters, a experiência prévia em outra assessoria grande (LG) e o meu perfil de meter as caras e fazer. Eu estudo muito. Estudo todos os dias, pesquiso, entrevisto pessoas, busco cases. E raramente fico no escritório menos do que nove, dez horas… 12 horas.

Como foi a sua experiência na faculdade?

Fiz jornalismo na Metodista. A faculdade me decepcionou. Aprendi muito mais na prática do que durante as aulas. Eu acho que jornalismo deveria durar dois anos e ser o complemento de alguma faculdade, como história ou sociologia… Muitos dos meus colegas de turma eram muito idealistas, intelectuais, foram fazer História na USP. Eu parti pra estágios. Acho que era mais prática do que eles.

Em que momento e por que você resolveu criar um blog?

Como eu tinha uma coluna de música na Reuters chamada Vertente, acabei fazendo um blog pra ela. Tive o Vertente no Gardenal por um, dois anos (acho), mas depois parei por falta de tempo. Só sei que o jornalismo tempo real me fez ter mais interesse pela web. [Webinsider]

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Juliano Spyer (www.julianospyer.com.br) é mestre pelo programa de antropologia digital da University College London e atua como consultor, pesquisador e palestrante. É autor de Conectado (Zahar, 2007), primeiro livro brasileiro sobre mídia social.

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4 respostas

  1. Este domínio parece ter uma boa quantidade de visitantes. Como você começa o tráfego para ele? Ele oferece uma rotação agradável única sobre as coisas. Eu acho que ter algo real ou substancial de falar é a coisa mais importante.

  2. Rodrigo, talvez seja, mesmo, uma questão geracional. Mas eventualmente, as forças do mercado e da própria sociedade por dentro da internet podem acelerar esse processo. Mas a questão de por que a blogosfera ainda está amadurecendo não tem a ver só com isso. Primeiro tem uma questão complicada: blog estrangeiro rende pauta aqui, e geralmente, ao falar do assunto, nos referimos a experiencias de fora. A pré-internet começou a se espalhar nos EUA no final dos anos 70 e só dez anos depois for aparecer aqui. Outro problema é a dificuldade que uma parte importante da sociedade tem de se expressar por escrito. Isso provoca algumas ilusões de ótica. Às vezes achamos que estamos mais adiantados do que talvez estejamos. Ou o contrário: avançamos silenciosamente, mas o mercado ainda não se deu conta. Enfim, pelo menos é legal perceber algumas vozes mais maduras como a da Thiane falando sobre isso. Abraços

  3. Muito legal a entrevista!
    Particularmente me identifiquei com a parte: A faculdade me decepcionou. Aprendi muito mais na prática do que durante as aulas. Eu acho que jornalismo deveria durar dois anos e ser o complemento de alguma faculdade, como história ou sociologia? Muitos dos meus colegas de turma eram muito idealistas, intelectuais, foram fazer História na USP. Eu parti pra estágios. Acho que era mais prática do que eles.
    No último ano de jornalismo da Unesp me espanto como alguns ainda têm a visão tão longe do mercado..

    Os blogs corporativos no Brasil ainda estão se engatinhando, salvo por uma boa idéia aqui ou ali. Recentemente o Eduardo Vasques, a quem entrevistei para o Peixe Fresco (http://www.peixefresco.net), comentou:
    Os próprios executivos/fontes não dão a menor importância para a web, têm uma visão arcaica e distante da realidade.Mas acredito que isso só vá mudar com a troca de gerações. Essa de agora é conectada, conhece os benefícios e facilidades da internet e estará no comando das empresas nos próximos anos.
    Ou seja, as coisas tendem a mudar rapidamente nos próximos anos…

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