Quarteto do Rio mantém o espírito musical dos Cariocas

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Quarteto do Rio mantém o espírito musical dos Cariocas

Os CariocasÉ inevitável: algum dia o lendário grupo vocal Os Cariocas iria desaparecer por completo, e eu, que fiz dele um dos meus principais ícones da bossa nova, não gostaria de estar vivo quando isso acontecesse. Mas, acontece.

Os Cariocas como tal morreu oficialmente com o falecimento do Maestro Severino Filho. No final da década de 1980, o grupo ressurgiu, gravou um CD na Som Livre, e foi ao Centro Cultural do Banco do Brasil fazer um show retrospectivo. Por sorte, eu estava lá, e digo isso com muito orgulho, porque esta foi a última vez que se pode ver o baixista e vocalista solo Luis Roberto. Logo depois ele veio a falecer.

Quase que eu não consegui entrar naquele concerto. Estávamos eu e a minha ex-mulher tentando comprar ingressos na hora do show, e um senhor do CCBB generosamente conseguiu dois lugares na primeira fila. Ou seja, de improváveis espectadores nos tornamos ouvintes privilegiados, e foi uma noite simplesmente inesquecível. Ali se podia ver que o espírito “carioca” da bossa nova não havia morrido! E espero que nunca morra mesmo.

O histórico dos Cariocas conta que o grupo nasceu no antigo Instituto La-Fayette, cujo prédio está lá até hoje, com o nome de Fundação Bradesco.

Durante décadas, o La-Fayette se tornara um dos colégios tradicionais da Tijuca, no Rio de Janeiro, bairro onde nasceu a bossa nova e se reuniam, bem próximo dali, os futuros integrantes do movimento de rock que se chamou de “Jovem Guarda”.

A iniciativa de formação do grupo se deu com os irmãos Ismael Netto e Severino Filho, ambos nascidos em Belém do Pará, e que vieram morar no Rio de Janeiro.

Apesar de ter tido várias formações, o grupo se norteou por vocais que no final se tornaram uma espécie de marca registrada do conjunto, ou seja, basta ouvir o som daqueles arranjos vocais que os fãs os identificam logo.

Com o afastamento de Severino Filho os últimos remanescentes quiseram dar continuidade ao trabalho vocal e aos arranjos do maestro. O nome “Os Cariocas” não pode ser usado por motivos de direito autoral, de propriedade da atriz Lucia Veríssimo, filha de Severino. A partir de então, o novo conjunto passou a se chamar de “Quarteto do Rio”. Essencialmente, o quarteto continua o trabalho anterior e começa outro, com ideias próprias.

Quem quiser ter uma ideia melhor da evolução dos Cariocas e da formação do Quarteto do Rio e seus componentes, pode assistir o vídeo a seguir:

Os novos componentes

Com o afastamento dos últimos músicos que fizeram parte dos Cariocas de 1960, entraram, pela ordem, Elói Vicente, sobrinho de Quartera, (violão, 4ª voz), depois Neil Teixeira (baixo, 2ª voz), Fábio Luna (bateria, flauta, 3ª voz), e mais recentemente Leandro Freixo (piano, 1ª voz), este último já parte do Quarteto do Rio.

Jorge Quartera ainda havia participado de algumas gravações nesta última fase, bem como Hernane Castro, bateria e 2ª voz.

O Quarteto do Rio, como se pode notar, é novo e veterano ao mesmo tempo. Elói Vicente, por exemplo, passou mais de vinte anos junto com Os Cariocas de Severino. Toda esta convivência e experiência de vida profissional mostram agora os reflexos da integração e da identificação musical do quarteto original com a formação do novo quarteto.

Para nós fãs não se podia esperar coisa melhor! Porque se trata de um grupo de pessoas jovens em idade biológica, amadurecido pela assimilação da música vocal de gosto refinado e amparado no que a música popular brasileira teve de melhor a partir do movimento da bossa nova que eclodiu no final da década de 1950.

O que se pode esperar daqui para frente é que todo esse esforço não fique esmorecido pelas dificuldades e barreiras que se criam no ambiente “cultural” brasileiro, para estudantes de música e profissionais que resolvem levar a criação a sério, e principalmente para aqueles dedicados à preservação de valores herdados que não deveriam ser esquecidos.

Comentários sobre a disponibilidade da discografia

Eu já comentei, por coincidência, nesta coluna, em um texto passado, sobre as dificuldades que todo fã de música que vive no Brasil tem para conseguir resgatar as gravações de bossa nova, particularmente aquelas do estúdio da Philips, atualmente de posse do Universal Music Group, que adquiriu os direitos sobre o catálogo da antiga Polygram, cujo estúdio está fechado há anos.

A meu ver, se a produção de um CD, cujo custo não é tão alto assim, for inviável, a remasterização pode, e a meu ver deve, ser oferecida na forma de um repositório que ficaria disponível para quem quisesse pagar o respectivo download. E se os autores de tal façanha tiverem bom senso, o download poderia incluir os formatos de alta resolução.

A prática tem demonstrado que basta ser feita a remasterização das fontes analógicas em PCM a 24 kHz e 24 bits, e está tudo resolvido. Da master principal qualquer outro formato de áudio pode ser facilmente convertido e oferecido à venda para o público interessado.

Quanto ao Quarteto do Rio, no meio deste ano foi lançado o disco “Mr. Bossa Nova”, com Roberto Menescal, suas composições e homenagens pelos 80 anos de vida do compositor. Até o momento eu ainda não vi o CD à venda em lugar algum, mas espero consegui-lo em breve.

Quem quiser ter uma ideia de como ficou o disco tá aí o clipe:

[Webinsider]

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http://br74.teste.website/~webins22/2017/04/03/caixas-com-cds-movimentam-o-mercados-de-discos-com-discricao/

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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Uma resposta

  1. Bela história… Os Cariocas deixaram um legado cultural imensurável para a música brasileira e o Quarteto do Rio prossegue o legado com maturidade, classe e repertório e gosto refinado. Que bom ser contemporâneo da arte dos dois grupos. Conheci pessoalmente o Luiz Violão, que cantou n’Os Cariocas em Visconde do Rio Branco MG, onde ele nasceu.

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